terça-feira, 1 de setembro de 2009

'A revolução dos Bichos'



Terminei de ler o livro do George Orwell, que conta uma fabula, onde os animais de uma fazenda, se rebelam contra seu tirano humano, que os mantém como escravos, sem nenhuma condição de vida digna, e com alimentação precária. Os animais despertam depois de ver o discurso de um velho leitão ‘major’ (animal mais velho do rancho), que conta sobre um sonho, em que os animais são livres, trabalham para si e tem dignidade e alimentação farta, sem os mal-tratos que o homem os causava. Trazia a idéia de revolução e liberdade, para todos os bichos do mundo.

Depois da revolução alcançada, os animais se organizam e prosperam, de forma espantosa, fazendo com que as fazendas vizinha os inveje, tendo algumas investidas de reempossar a fazendo, que nesse momento passa a se chamar, granja dos bichos.

Os animais tem seus perfis traçados, porcos, ovelhas, cavalos, vacas, galinhas, burro... Todos com traços marcantes de manipulação, alienação, rigidez, ignorância, dispersão, teimosia... personalidades e limitações de cada espécie (apesar de eu acreditar que seja de cada animal, singularmente).

Se organizam, de acordo com seus limites e condições, mas com acordo de que todos os animais são iguais, e tem os mesmos direitos perante tudo relacionado à granja. Elegem mandamentos (leis), onde a mais lembrada é: ‘duas pernas ruim, quatro pernas bom’, e tudo segue seu curso, até o momento que alguns animais se destacam (aliás o que acontece todo o tempo), desta forma, os porcos por se apresentarem mais inteligentes, tomam a liderança das ações a serem feitas pelo restante da fazenda, mas até tal ponto, consultando (quando oportuno e de forma proveitosa para si), os acontecimentos relacionados à granja.

E segue a historia, e a granja prospera, mas os animais não, a diferença é mínima de quando eram escravos, da de agora, livres, porem, trabalham para si, e isso os afaga o ego, fazendo com que trabalhem sem reclamações, acomodados com seu pseudo sucesso. Enquanto os porcos, crescem, estudam, gozam das regalias que o cargo de “animal mais inteligente da granja”, traz. Existem dois lideres mais atuantes, um que quer a prosperidade da granja, fazendo uma implantação industrial (no livro representada pela construção de um moinho de vento), e um outro que trata primeiramente, para a defesa e organização da granja. Ambos procurando a melhora, mas gozando sempre das regalias e exageros que tal posto agregava.

Na briga elo poder, os líderes entram em conflitos não muito perceptíveis para os demais animais, sem instruções, até que um, o mais militar, e com poder bélico (cães que treinou em segredo), expulsa seu oponente e se elege, por repressão , como líder da granja (o que nesse ponto do livro me remete muito à ditadura militar), onde um, lidera a braço de ferro, executando suspeitos de traição, e mudando leis, e apagando lembranças dos demais animais mais ignorantes, sem condições de ascensão, seguem suas vidas fixados na liberdade, que agora era menor talvez, do que naquele tempo de escravidão, mas com força de não ser dominado pelo homem. Seguindo o mesmo lema, ‘duas pernas ruim, quatro pernas bom’.

Até o ponto de ver que tais porcos, seus líderes, já não eram aqueles animais que junto aos demais, com suas forças unidas, trouxeram a liberdade proposta pelo leitão ‘major’. Até o ponto de verem os porcos andando de pé, e vestindo roupas, como os humanos, bebendo e jogando, como humanos, gananciosos e malvados, como os humanos. E se reunião com os humanos, transações e relações pessoais, com os humanos. Os animais vendo da janela, uma dessas reuniões percebem, e neste ponto, as palavras do Orwel são as mais apropriadas: “As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco.”

E com essa metáfora, na janela, onde vemos, a abertura de nossa percepção da realidade, onde os ditadores (governantes, prefeito, governador, presidente senador), pode estar revestidos em qualquer rostinho bonito, de sorriso agradável, e de vos mansa, se mantiverem a mascara, capaz de enganar o povo, adulterando sua historia, e fazendo com que a omissão, e o medo, tornem os escravos novamente.

É clara a mensagem do livro, o que propõe o autor, tendo essa relação de animais e humanos, animais e animais, que qualquer bicho poderá sucumbir ao poder, tendo em suas mãos seres omissos, sem memória e amedrontados, seja pelo braço forte, ou pelo simples fato da dúvida da mudança, para o desconhecido. Querendo alardear o cuidado com os movimentos sociais, ideologias e organizações de fé implantadas nos menos instruídos.
É óbvio que precisamos de engajamento e percepção, que precisamos de educação e cultura, e que precisamos de coragem de sermos nossa própria liderança, é ter a coragem de espreitar a realidade com olhos de transformação, sem apagar a memória de nossas conquistas históricas. E fazer, juntos a verdadeira revolução, descrita por Orwel, nesta fantástica obra, que merecia ser lida nas escolas, nas aulas de história, e relacionadas à nossa realidade, ao invés de tantas datas comemorativas e mentiras deslavadas.


“Lembro-vos também de que na luta contra o Homem não devemos ser como ele. Mesmo quando o tenhais derrotado, evitai-lhe os vícios. Animal nenhum deve morar em casas, nem dormir em camas, nem usar roupas, nem beber álcool, nem fumar, nem tocar em dinheiro, nem comerciar. Todos os hábitos do Homem são maus. E, principalmente, jamais um animal deverá tiranizar outros animais. Fortes ou fracos, espertos ou simplórios, somos todos irmãos. Todos os animais são iguais.”
George Orwell


George Orwell, escritor, jornalista e militante político, participou da Guerra Civil Espanhola na milícia marxista/trotskista e foi perseguido, junto aos anarquistas e outros comunistas, pelos stalinistas. Desencantado com o governo de Stalin, escreveu “A Revolução dos Bichos” em 1944. Nenhum editor aceitou publicar a sátira política, pois, na época, Stalin era aliado da Inglaterra e dos Estados Unidos. Só após o término da guerra, em 1945, é que o livro foi publicado e se tornou um sucesso editorial. Faleceu em 21 de janeiro de 1950, em Londres.

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